quarta-feira, 9 de outubro de 2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013.
14:14 | Alexandre Tavares.
COLUNA.

Como um poste de energia elétrica, sinto meus pés fincados sob a terra de um dia pós-chuvoso da primavera, estético e paralisado, desgastado com o passar dos anos que se derramam sobre meus ombros criando um peso infortúnio. A penumbra do céu me entorpece durante a noite e os raios de sol me chicoteiam durante os longos dias de um Outubro lamentável. Queria poder dizer que amanhã seria diferente, que você passaria por mim lançando-me aquele olhar profundo para que meu corpo vibrasse como costumava ser sempre que estava com você. Finalmente eu voltaria a instigar meus instintos a se modificarem em sentimentos profundos, porque haveria uma razão, e seria você.

Como uma coluna, intocável por dentro, eu me mantenho de pé, estabilizado em uma posição decadente, mesmo parecendo feliz, então como o concreto que vemos paralisado entre uma distância média de 30 metros, cá estou. Onde todos que por mim passam, marcam-me ao menos com seus toques sutis e moderadamente despercebidos, mas que se tornam nada uma vez que você já havia passado por aqui um dia.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

 SOBRE VOCÊ.


Hoje eu acordei com lágrimas nos olhos. Havia sonhado contigo. Você dirigia suavemente ao meu lado enquanto ouvíamos uma de nossas músicas, você tocava na minha mão e dizia me amar, eu sorria. Quando me estiquei para colocar uma música, como um dos meus rituais matinais, me perguntei se aquilo havia mesmo sido um sonho, ou uma lembrança. Foram poucas semanas, mas pra mim já faz tanto tempo. Quando cheguei ao trabalho me perguntei porque meu coração doía tanto de uma maneira completamente estranha, eu estava anestesiado por dentro, como se não houvesse na aqui dentro. Vi uma mensagem, não era sua, mas falava de você. Naquela época, num passado-recente, nós estávamos juntos em tudo e era isso o que nos fortalecia – pelo menos era o que me fortalecia. Enquanto distraia meus pensamentos entre livros e emprego, li aquela mensagem, que dizia que você não estava bem, mas nada, além disso. Então me dei conta de que de alguma forma, mesmo que distantes, ainda somos ligados e mesmo que essa distancia só cresça entre nós com o passar do tempo, tudo o que desejo no mundo, é um dia te ver bem. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Os lagos secaram. A penumbra permanece petulante diante de nossos olhos nus. O ar gélido toca nossa pele flácida da escassez de um duro inverno interminável. Seus dedos se cruzam para as juras de amor felicitadas por momentos de sorrisos largos e instantes que se fazem eternos. Estou voltando para casa sem o menor pingo de esperança. Os pulmões escurecidos e o fígado inválido. O tempo inconsciente e o dilema inconstante. E na outra ponta da mesa, esta o cálice sagrado do meu sangue que você saboreou quando me feriu.

SENSIBILIDADE (o sabor do meu sangue) | Alexandre Tavares

terça-feira, 30 de julho de 2013

Irrelevante Dilema


   Fecho meus olhos e vejo minha vida em um instante. É difícil explicar ou só descrever o que sinto por você e não há comprimido que me pregue os olhos ou palavras que resumam o vibrar frenético do meu coração ao lembrar de apenas um sorriso seu e, no ar ele se desfaz como as palavras não escritas no nosso romance inacabado, por fim de um modo que talvez nossos pensamentos tenham colidido rápido demais, embora ainda tenha sido assim o triste e precipitado fim. Você, foi a melhor e a pior coisa que já me aconteceu, e assim como o sal da água que seca com o passar do tempo desgastando-me as pálpebras, meu coração se fecha para o desconhecido e se congela para se desfazer como as cinzas dos inúmeros cigarros que tragamos juntos quando ainda pensávamos ser maduros, felizes e sobretudo, fortes como as sutis juras de amor que nos antecipamos a fazer, e por ora, só penso em me distanciar do que foi bom, e sentir a briza fria do final de um triste inverno palidecer minha pele enquanto dirijo sem direção, e apenas dirijo.

domingo, 30 de junho de 2013

MELANCOLIA


Os dias estão cinza sobre nossas cabeças, o céu se mantém fechado, os raios de sol desapareceram entre a densidade das nuvens gélidas e esbranquiçadas. As noites são frias, o céu se torna uma penumbra incontestável e as estrelas não nos visitam mais. O ar está vaporizado e uma névoa insiste em se incrustar sobre todas as extremidades por onde caminhamos com olhares despercebidos e nossos lábios continuam selados e silenciosos e as músicas nos fones de ouvido parecem ainda mais melancólicas em dias assim. Os sentimentos se intensificam com a mesma voracidade dos pés frios que nos incomodam ao adormecer. Amanhecemos seguros de que queremos estar lado a lado, mas ainda não nos conhecemos, embora saiba que alguém no mundo, deseja o mesmo que eu. Os cigarros se multiplicam e por horas o sono não vem, e não nos basta ver a monotonia fatídica dos programas da televisão, então nos limitamos em estar satisfeitos com nossa própria rotina, mesmo que isso se resuma a incansáveis dias de estudo e pagamentos de impostos. Nos sobra tempo para pensar onde erramos, onde acertamos e principalmente nos próximos erros que cometeremos. Perdi meu coração na Califórnia. Perdi a cabeça. Penso que talvez esteja enlouquecendo, que seja mais fácil uma internação, mas não que isso resolva qualquer dos problemas que imagino ter, então talvez esteja esquizofrênico, o que não seria mal de qualquer forma, talvez fosse mais fácil viver uma vida que não é minha, ainda que apenas na minha cabeça, tal como eu já a perdi. Então me vejo redundante num perplexo estático do que se refere ao meu reflexo indigente de um espelho engordurado pelas mãos que por ali passaram.

domingo, 16 de junho de 2013

insta: @ap_tavares
INDECIFRÁVEL


Acotovelado sobre o batente da janela, sentindo a brisa fria enrijecer minha palidez, observando o exalar calmo da fumaça de um cigarro estratégico se intensificar tenuemente nos arredores de um luar minguante inalcançável ora iluminado ora encoberto por nuvens densas que se dissipavam na penumbra de um céu infalível ao anoitecer, depois de horas adentro analisando sua chegada, lidando com o azul solar de um céu ao amanhecer, em seguida a densidade de nuvens temporárias que abriam espaço para um tom laranja confiável, um rosa falho e um roxo ardente formando um crepúsculo intocável no meio tempo em que o sol se perdia na imensidão do horizonte abandonando os tetos das casas requintadas de um litoral livre de turistas em um setembro frio, para que o céu se importunasse com estrelas imóveis, mas que vez ou outra caiam sobre o desconhecido. A música distante, quase inaudível na outra ponta do quarto extenso, seria um flashback melódico ou um folk cheio de frases bem formuladas acompanhado por uma batida leve, quase sensual, mas que por hora se reprimia a função de vulnerabilizar meus pensamentos hostis de insatisfação. Então semicerro os olhos para os passos na areia e os sigo até o momento em que as ondas quebram na praia desvanecendo-os com sucesso, até que então encontro seus donos incógnitos superiores as altas ondas de uma maré furiosa, movimentando suas pranchas em manobras infalíveis, mas que em algum momento os engolia, até que voltasse a superfície e tornassem a domá-las. Os ponteiros do relógio caminhavam vagarosamente na parede atrás de mim, pendurado sobre a enorme cama de casal que abrigava meu singelo e único corpo, mas se quer precisava olhar diretamente para ele, o tempo seria incapaz de parar, ainda que o relógio quebrasse, haveriam outros relógios, ali ou em outros lugares, que continuariam insistentes, até que o dia amanhecesse e depois anoitecesse, e novamente, e outra vez. E eram em momentos como esse em que sem precisar olhar diretamente para meu reflexo no espelho, eu podia me ver, ali, estagnado a um destino sórdido e imoral, indagando a mim mesmo o significado adjacente de uma monotonia encabulada e que se distraia com o passar do tempo, fosse acendendo filtros ao invés de brasas, fosse beijando lábios desconhecidos ao invés de amantes ou alcoolizado com tantas doses de uísque que só então, só assim, me permitiam selar as pálpebras, mas desta vez não para chorar ou engolir as lágrimas, mas sim para que descansasse sobre meu leito embora escasso, abrigando não apenas um corpo esgotado, mas também um confinamento mútuo de tristeza isolada em um único coração.