MELANCOLIA
Os dias
estão cinza sobre nossas cabeças, o céu se mantém fechado, os raios de sol
desapareceram entre a densidade das nuvens gélidas e esbranquiçadas. As noites
são frias, o céu se torna uma penumbra incontestável e as estrelas não nos
visitam mais. O ar está vaporizado e uma névoa insiste em se incrustar sobre
todas as extremidades por onde caminhamos com olhares despercebidos e nossos
lábios continuam selados e silenciosos e as músicas nos fones de ouvido parecem
ainda mais melancólicas em dias assim. Os sentimentos se intensificam com a
mesma voracidade dos pés frios que nos incomodam ao adormecer. Amanhecemos
seguros de que queremos estar lado a lado, mas ainda não nos conhecemos, embora
saiba que alguém no mundo, deseja o mesmo que eu. Os cigarros se multiplicam e
por horas o sono não vem, e não nos basta ver a monotonia fatídica dos
programas da televisão, então nos limitamos em estar satisfeitos com nossa
própria rotina, mesmo que isso se resuma a incansáveis dias de estudo e
pagamentos de impostos. Nos sobra tempo para pensar onde erramos, onde
acertamos e principalmente nos próximos erros que cometeremos. Perdi meu
coração na Califórnia. Perdi a cabeça. Penso que talvez esteja enlouquecendo,
que seja mais fácil uma internação, mas não que isso resolva qualquer dos
problemas que imagino ter, então talvez esteja esquizofrênico, o que não seria
mal de qualquer forma, talvez fosse mais fácil viver uma vida que não é minha,
ainda que apenas na minha cabeça, tal como eu já a perdi. Então me vejo redundante
num perplexo estático do que se refere ao meu reflexo indigente de um espelho
engordurado pelas mãos que por ali passaram.
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